sexta-feira, 23 de março de 2018

AS CRÔNICAS DE AMON ABSUR | PARTE III


               O silêncio incomodava Absur. Tendo em vista a escuridão que lhe aguardava, improvisou uma tocha com o fogo vivo que queimava nas escadas.  Sua caminhada é angustiante. Seus pés parecem tocar uma camada fina de água e através das chamas ele percebe que o chão é liso e frio. Então ele se vê caminhando abaixo dos próprios pés, como uma sombra pálida acinzentada.
                O mero vislumbre de sua forma o carrega por entre as trilhas mais distantes do umbral e Amon se vê em meio a um vale cheio de pessoas enforcadas ainda se debatendo, penduradas em grandes árvores mortas e retorcidas.  A chama em sua tocha se extinguiu, o ar é frio. O garou percebe que seus pelos ganham fios embranquecidos e que em meio a agonia dos que estão condenados a danação, ele caminha livre.

- Onde estou? Como fui parar tão longe, quase não sinto o mundo... Será que...

                A suspeita de onde possa estar trás uma grande preocupação ao garou, que caminha com dificuldade devido ao ferimento em sua perna.  Ele vagueia pelo local e descobre estar em uma pequena ilha e que nela apenas os condenados vivem. Contudo, em uma das pontas ele acha um barco velho, não muito confiável, mas é a única coisa que ele pode usar para sair dali.
                A pergunta que rodeia sua mente é pra onde ir. Mas ele logo percebe que não muito distante esta um grande porto, o Porto da cidade de Nova Tronner.

- Maldição, essa não é a umbra rasa e nem tão pouco a umbra profunda. Que Anpw me proteja e Sebek me dê forças.

                O peregrino sobe no barco, começa a puxar os remos e logo fica evidente que há fissuras nele. A água começa a entrar e o garou não pode ir mais rápido se não corre o risco dos remos não aguentarem.  E de repente, BUUUMMM. Algo toca no barco pela sua esquerda. BUUUMMM, pela sua direita e o som da morte começa a ecoar. Centenas de mortos estão tentando virar a embarcação.  O garou sente um frio na espinha, mas logo acerta um com um dos remos que afunda, enquanto o outro e puxado de suas mãos caindo na água negra. 

                Aqueles braços brancos e sem vida, se decompondo para fora da água como algas marinhas feitas de mortos. Nadar não é uma opção e o tempo começa a correr contra o peregrino.
                Tomado pelo pavor, o ragabash tem que pensar rápido se quiser sobreviver a isso! Então ele puxa uma pena de coruja presa em seu cordão (o mesmo que carregava as pedras).  E diz o mais rápido que pode quase como uma oração.

- Minha amiga, sei que a muito não lhe trago alegria ou mesmo comida. Mas eu preciso muito de você agora! Lembre daquela ninhada que salvei há dois anos, tu me disse que quando eu precisasse poderia lhe chamar... Eu preciso agora, por favor, POR FAVOR!
                Um dos mortos consegue subir. Seu corpo putrefato caminha em direção ao garou que se prepara para cair, quando uma coruja grande e marrom passa por sua cabeça. Então asas aparecem no peregrino que pode voar dali até o cais em segurança.
                Ao chegar entre os barcos ele conversa com a grande coruja marrom. Ela tem penas escuras e olhos esverdeados cintilante.

               - A onde eu estou? Amon pergunta.

               -Você caminhou para o mundo inferior, a terra das sombras lar dos mortos. Precisa voltar para casa.

                - Não posso ainda, estou onde devia estar, apesar de não poder dizer que isso é algo bom, estou perto de completar minha busca.

                - O que busca apenas lhe trará dor e sofrimento.

                 - Eu estou disposto a pagar o preço. Mas, se puder pedir apenas mais uma coisa a você ficaria grato e lhe devendo um grande favor.

                - O que quer garou?

                - Me permita voar para fora daqui quando eu completar minha missão.

                A coruja torce seu pescoço e arranca uma pena de seu corpo, entregando ao peregrino dizendo: - Quando estiver pronto, solte essa pena no ar e lhe darei asas mais uma vez, contudo só voltarei a você quando cumprir com suas obrigações para comigo.
                Amon assentiu com a cabeça e agradeceu. A coruja logo alçou vôo e sumiu em meio à escuridão. O peregrino começa a caminha na terra dos mortos, um lugar escuro e sombrio. Uma visão do que será o fim do mundo.

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