terça-feira, 27 de março de 2018

AS CRÔNICAS DE AMON ABSUR | PARTE V


                - Acho que é como dizem. Mesmo na nossa espécie, quando estamos à beira da morte pensamos no começo de tudo.
                Eu nasci em 1823 em uma aldeia chamada Ipet-Sut que significa O Melhor de Todos os Lugares. Ficava localizada próximo ao templo de Amon, também conhecido como O Oculto. Ele é o deus dos ventos.  Infelizmente meu nascimento não trouxe alegria para minha mãe, pois meu pai falecia neste mesmo ano em um desmoronamento, enquanto desenterrava uma estátua da cabeça de Amon.

                Ele foi um engenheiro e explorador e durante um tempo uma figura reconhecida. Mas então, vieram tempos difíceis e assim ele apostou tudo na descoberta dos segredos antigos. E isso o levou de nós.
                Nossa vida desde que eu me lembro foi dura. Vivíamos com quase nada. Eu cresci trabalhando desde cedo nos campos de trigo, depois nas construções, até que um homem apareceu e ofereceu muito dinheiro para minha mãe... Bem, ela nunca me amou... Logo fui vendido ao estranho de pele morena que me colocou em um camelo e me levou da cidade. Eu nunca mais retornei ao meu lar.
                O homem se chamava Radamés, O Escriba de Hélios. Em nossa viajem pelo deserto de Kaspar, ele me contou inúmeras histórias de tempos antigos e grandes heróis. Eu seguia a vida agora fazendo coisas para ele. 
                Uma noite ele me contou a história do povo lobo e eu fiquei fascinado! Em meus sonhos vivi cada palavra contada por ele, até que um rosnado me acordou no meio de uma noite. Fomos surpreendidos por uma tempestade. Nossa barraca já havia voado, então eu o procurei, mas não o encontrei. Ao invés dele, um lobo magro e de olhos brilhantes me encarava, ele rosnava para mim. Meu coração disparou enquanto o vento aumentava e pouco a pouco fomos sendo engolidos.
                Meu corpo foi arremessado pelos ares. A areia e o vento me cortavam em pedaços, até que algo dentro de mim despertou! Uma vontade de viver que ia além dos limites que meu corpo aguentaria. Senti meus ossos quebrando, minha pele se rasgando e depois tudo ficou escuro...
                Acordei com o lobo me desenterrando. Eu estava confuso e apavorado. Logo o lobo falava comigo e eu o entendia. Eu devia ter feito a travessia, estava no Duat... Então ele me falou.

               - Assim como eu caminho em quatro patas, tu também caminharás. Eu sou o Escriba e você filhote, aprenderá a história de sua vida!

                Anos se passaram desde aqueles dias. Eu me tornei um Peregrino, um mensageiro do mau agouro. Mas foi quando estive na presença de outros da minha tribo que me dei conta de nosso papel. Eu participei da tomada de Al-Kharijah, um Oasis que estava sobre a influência das serpentes de Set. Conquistei meu posto de Fostern ao derrotar A Sombra de Farafra em um extraordinário  duelo mental e jogos de adivinhas que levaram doze horas. E tudo isso me levou muito mais além.
                Aprendi a curar o couro e desenvolvi o gosto do meu pai por ser explorador. Vivi um tempo no Oásis de Baharya, me casei, tive uma filha e lhe dei o nome de Kéfera. Mas uma vida normal não é algo para um Peregrino. E quando comecei a ter pesadelos tive que ir até meu mentor. Contei a ele sobre as sombras que me chamavam, sobre um pássaro flamejante que tudo cobria e que sobre uma de suas asas as cidades eram purificadas e na outra Anpw pesava os corações dos homens permitindo ou não que fossem para o Duat.
                Meu mentor disse que havia uma grandeza me esperando, mas que em minha jornada minha alma seria testada, que meu coração seria pesado e só então meu destino me encontraria. Disse-me que deveria partir em busca de esclarecimento e assim eu o fiz, deixando tudo para trás.
                Atravessei cidades em busca de respostas, encontrei matilhas que me acolheram no caminho. Mas nunca fiquei mais que poucas semanas em um mesmo lugar, até chegar à Nova Tronner e começar a escutar o chamado de uma forma que nunca havia escutado antes. 
                Agora eu estou aqui cercado pela morte. Será esse o destino que meu mentor me falara ou esta é a provação de minha alma? Se for assim eu espero que Anpw não demore muito para pesar meu coração, pois nesse momento ele está pesado e tomado pela minha fúria ROOOOAAARRRRHHH!

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