quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O CORAÇÃO NEGRO

Um conto de Mergery Bacon.

- Bem, você parece ter boas histórias Crab. Eu gosto disso. Nossa! Suas viagens me roubam o ar... Mas deixe eu te contar uma das minhas agora... Silvia traga uma cerveja das grandes, feche a porta e acenda a lareira, por favor.
               
                Era uma noite como outra qualquer. Crab está na cidade há mais ou menos dois meses, mas essa é a primeira vez que vai ouvir uma história de Mergery. Uma Galliard como ela, contudo, mais velha, que leva o nome de honra de A-Que-Elege-Os-Mortos e uma fostern.  Quando Silvia trás a cerveja e o silêncio da madrugada se abete sobre elas, Mergery começa a conta sua história:

                Foi um inverno intenso, a casa estava cheia e curiosamente muitas mulheres estavam dando a luz. Transformamos uns dos quartos em uma maternidade a fim de deixá-las confortáveis. As mães eram meninas pobres e abusadas pela praga do homem. Mesmo assim, a vinda de uma vida é importante principalmente quando uma parente estava entre elas. Seu nome era Lorena, tinhas a pele branca e delicada e olhos verdes. Seu pai era um abusador e cogitamos que o filho era dele, mesmo ela nunca tendo confirmado.
                Claro que demos cabo dele. Os coiotes se alimentaram de suas bolas e os corvos de seus olhos... Silvia pigarreou e disse – volte à história Mergery.
                A Galliard olhou para a cliath, respirou fundo e continuou. O parto de Lorena não foi fácil. Temos muitas meninas que sabem como conduzir um parto, mas naquela noite a neve cobria tudo, o vento cortava e congelava e precisávamos de um doutor. Silvia foi a responsável por ir atrás de um médico, mas já era tarde.
                Eu estava com Vanda no caern quando aconteceu. Lembro dos olhos de Silvia chegando e dizendo que algo não ia nada bem, assim voltamos para casa.
                Lembro das palavras de Silvia dizendo que os espíritos estavam inquietos e isso era um mau presságio! Com certeza era!  Quando chegamos, uma das parteiras tinha se transformado em um fomori. Era horrível e com garras longas, ela havia estourado o corpo da mulher e segurava o bebê de Lorena nos braços... Mas antes que eu pudesse atacar, um estrondo me desorientou: Anna disparava com seu rifle Hawken. A criatura soltou a criança e guinchou. Estava furiosa e nós também!
                Minha amiga estava morta e tínhamos que ao menos salvar a pequena centelha de vida que restava dela! Atacamos juntas, uma após a outra, até que Vanda a cercou pelas costas e indo para sua forma glabro rasgou a criatura lhe retirando a coluna de uma só vez! O verme cambaleou em direção ao chão e nós dilaceramos o resto... Mas ali estava à situação: Lorena morreu, a parteira também e o bebê estava pálido e fraco.
                Silvia o levou para o quarto e ao sair no corredor as meninas estavam com olhos esbugalhados, mas não dissemos nada. Apenas Anna as comandava para que voltassem aos seus quartos e assim aquela noite se foi.
                No outro dia tivemos que resolver tudo. Falar com a seita, enterrar Lorena e ficar de prontidão, pois a criatura estava por aí, perambulando pelo reino dos espíritos. No fim da tarde estávamos decidindo ir para umbra, quando ouvimos o som alto como um berro. O som nos conduziu até o quarto dos recém nascidos e nossos corações ficaram pequenos.
                Confesso: um pavor se abateu sobre mim, minhas pernas ficaram pesadas e meu peito perdia todo o ar! Quando chegamos perto do quarto, Silvia sussurrou: Wyrm!
                Anna entendendo que a batalha seria ainda mais sangrenta tirou todas de lá, ficando apenas eu, Vanda e Silvia. Quando a casa ficou vazia assumimos nossa glabro e pegamos nossas armas. Mas nada no mundo nos prepararia para o que estava por vir...
                Do pequeno berço do filho de Lorena saiam tentáculos negros que estavam presos as outras crianças, ele as devorava todas ao mesmo tempo! Nossa fúria tomou conta de nossos corações e começamos a atacar os tentáculos, então o bebê agora com a pele cinza e olhos negros, flutuou e começou a arremessar as crianças mortas em nossa direção. Vanda saltou com lágrimas em seus olhos, enquanto tentávamos protegê-la dos tentáculos. Ela cravou suas garras na cabeça do pequeno e a retirou! Mas, isso não foi suficiente, pois um gás negro começou a sair dele. Estávamos sufocando rápido, Vanda, nossa alpha então desferiu mais um golpe agora em seu pequeno peito e arrancou dele um coração negro cheio de tentáculos, um ser diabólico como um organismo vivo.
                Aquele pequeno coração queria se alimentar, ficar forte.  Contra ele tentamos de tudo: fogo, purificação, água, balas e nada matou o bastardo! Então Anna teve uma idéia: deveríamos prende-lo. Assim conseguimos uma caixa de bronze e prendemos a criatura lá dentro de onde ainda hoje se pode ouvir a batida daquele coração negro!

- Onde esse coração está, você me pergunta. Rs, hoje a noite quando formos para a assembléia eu te mostro. Isso mesmo! Ele está na seita, em nosso salão de armas. Melhor lá do que em qualquer outro lugar.

                Bem mas não é só isso, todas nós sofremos muito. Tivemos que falar que uma epidemia se alastrou sobre os recém nascidos e isso os levou a morte. E para não esquecermos que as pequenas centelhas de vida precisam ser vigiadas constantemente, nós tatuamos isso aqui.  A galliard exibe uma tatuagem com o glifo de sacrifício próximo ao seu peito enquanto Silvia exibe na perna.


- Então fique sempre vigilante Crab, pois o mal pode se esconder até no mais puro dos corações e trazer o horror para esse mundo.

Um comentário: