sábado, 20 de janeiro de 2018

A DANÇA DOS NOVE MACHADOS

               Antes de mim havia um uktena que mantinha tudo em harmonia, eu como seu jovem e curioso aprendiz me esforçava a cada novo dia para pisar em suas pegadas e seguir a sua sombra. E por isso estou vivo e hoje liderando a seita.  Os olhos de Estrela de Ferro se perdiam no crepitar da fogueira enquanto o vento ululava entre as matas exibindo uma platéia de seres noturnos e curiosos a fim de se aquecer do frio que vinha chegando.
                Era inverno de 37 quando ele acordou e chamou a todos para o centro do caern, “mas quem era ele você pergunta, é verdade seu nome esta na minha cabeça e não na minha língua – Ele se chamava Nove-Machados-Voadores-do-Rio –dos – Mortos, Ahroum e nosso Ancião”.  Seus cabelos já prateados e as marcas em seu rosto mostravam todas as suas lutas. Usava apenas uma calça e um lenço dado por sua esposa Lirio-Brilho- de Luna uma parente da tribo a qual ele desposou como sua (um direito adquirido ao ancião da seita). Mas ela já havia partido há muito tempo.
                Bem ele nos chamou e lá estávamos ele contou que aquele seria seu último inverno entre nós e que a noite partiria para sua última batalha contra o Avô Serpente. Ficamos confusos e com muitas perguntas, mas ele com sua sabedoria nos disse “vocês encontraram o caminho” e assim ele partiu rumo a sua última marcha.
                Lembro de assumir meu lobo e o seguir por todo o território como se ele não soubesse que estava ali, acho que ele sabia e queria que eu visse o que ia acontecer... Quando chegamos a margem do rio eu pude avistar o bando de homens em cavalos, próximo a entrada de uma das trilhas para tribo.  O velho Ancião se mostrou em glabro! Deixando o branco da neve abaixo dos seus pés, logo os cavalos se assustaram e eu vi os olhos dos homens se acendendo como o fogo do Avô Serpente.
                Eles fizeram chover balas, mas o ancião sabia como dançar com a tempestade e trazer para eles a sombra mais densa que a noite e o primeiro dos sete homens caiu com o primeiro machado cravado na testa. O ancião começou a correr os afastando da entrada e eu o segui com meu peito explodindo para entrar no conflito.
                Lembro da risada de um deles e da voz dizendo “velho você irá pagar por isso!” Mas o ancião sorriu e lhe apontou um osso e em seguida o partiu assim como o pescoço da criatura, do sanguessuga.  Os outros cinco saltaram dos cavalos e continuaram atirando  e mesmo o ancião sendo veloz ele não podia se livrar de todas elas e logo seu sangue manchou a pureza da neve sob seus pés.
                Então ele mergulhou em seu lobo interior e deixou vir a tona seu guerreiro mais furioso. Um dos homens temeu e tentou fugir, mas o segundo machado que vou cortou sua perna e o terceiro o fincou no chão. E novamente as sombras dançaram enquanto os outros mostravam suas garras e presas e partiam para cima do corpo do garou.
                Gritos abafados na noite foram cada vez mais sumindo e por fim apenas o lide deles um sanguessuga de pelos prateados e longos na face se mantinha em pé segurando seu sabre e o ancião com o corpo vermelho e dois machados ainda firmes olhava para ele.
                Eu estava contemplando o que um uktena pode fazer em meio às sombras quando sua vontade de vencer se torna o que lhe sustenta em pé.  Contudo, não foi algo bom de ver, pois o vampiro era habilidoso e fez ir ao chão o braço com o machado, um corte em seus tendões e ele estava arqueado no chão eu fui para hispo e por um segundo percebi que chamei a atenção da criatura, mas o urro de reprovação veio junto e o ancião se lançou em direção ao sabre e aproveitou para retalhar a carne do inimigo e lhe tirar a cabeça.

                Eu estava com ele nos últimos minutos e ele sorriu deixando comigo seu último machado, eu enterrei um ancião, um amigo, meu pai naquele dia de inverno. E foi assim que entendi que devemos fazer de tudo para defender nossa família, mesmo que isso seja se sacrificar. Então jovem irmão esse é o motivo dos meus olhos distantes quando olho para fogueira. 

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