quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

COBAIA 62

                Minha cabeça estava doendo muito e eu mal lembrava meu nome se é que eu lembrava meu nome. Fui desperto pelo barulho do metal sendo afiado e meu coração acelerou como nunca antes havia sentido. A minha frente uma mesa cheia de laminas e instrumentos que eu só via na casa dos médicos.
                Eu estava preso em uma cadeira como as de barbeiro, contudo meus pulsos e pés estavam presos, havia também algo preso em minha nuca era gelado e cabos como os dos postes saiam de trás da minha cadeira.
                Então ouvi passos e fingi estar adormecido ainda, não que não fosse isso que estava acontecendo, pra mim eu estava tendo um péssimo sonho afinal... Então ouvi isso:

- Morrice, onde achou este?
                - Esse foi o Adan que achou. Ele é o sobrevivente de da grande nevasca de 26.
- Estou impressionada com a tenacidade de Adan, acho que em breve ele poderá desafiar alguém pelo novo posto.  Bem, isso se ele me trouxe o que acha que trouxe.

                Não vou negar que me senti muito desconfortável, eu não sabia do que estavam falando, mas senti muito medo. Continuei fingindo para meu próprio bem. E logo mais passos e vozes ocuparam o lugar:

- Finalmente chegaram, sentem. Meu dever como alpha e passar a vocês conhecimento e é isso que farei. A alma registra cada sentimento impresso nela seja dor, amor, medo... E isso não se apaga facilmente.  Se todos os dados estão corretos e ele for o sobrevivente de 26 poderemos enfim estar perto de descobrir o que realmente aconteceu naquela época e isso tenho certeza é algo que tira o sono de Morrice a verdade atrás da lenda.

- Através desses instrumentos seremos capazes de produzir um eco da alma desse jovem.

                - Mas o que é exatamente isso? (indago a voz do primeiro homem que ouvi)

-Isso Morrice é o próximo passo do telegrafo (rs), mas com uma aplicabilidade peculiar eu admito, inserindo esse dispositivo no córtex da cobaia 62 (acho que ela se referia a mim  por cobaia 62) iremos descarregar uma voltagem considerável de eletricidade, que irá captar o momento exato da sua maior provação ou maior sentimento, neste caso o que ocorreu em 26. Assim os dados capturados em formas de ecos serão transmitidos para esse receptor que tem a aparência de um telegrafo assim anotaremos tudo que pudermos extrair antes da morte da cobaia 62.

                Nesse momento sabia que iria morrer então me debati, gritei por ajuda e o grupo de pessoas na sala ficou me encarando em meio à penumbra. Então algo invadiu minha cabeça como um golpe certeiro, meus dentes se partiram e meu corpo começou a cheirar a queimado... As pessoas no fundo pareciam perplexas. Foi então que eu entendi, eu estava morto. Ali de pé ao lado do meu cadáver olhando a todos sem que eles me vissem, ao menos não todos, pois a mulher estava parada na minha frente e olhava diretamente para meus olhos.
                Então ela apontou para o instrumento o telegrafo e sussurrou para mim, “nos conte”.

                Eu estava perplexo, eu morri, mas nada tinha realmente mudado tudo parecia igual. Contudo eu me lembrei de tudo, aquela angustia de não saber quem era passou... Então eu caminhei e pareciam horas se passando até que digitei algo ali, eu não sei bem como funcionou, mas parte de mim parecia se desprender e acionar a maquina enquanto eu lembrava e a mensagem surgia.
                Depois disso estava sozinho eles haviam sumido, então sai da sala passando por um corredor frio e escuro, mas quando voltei a ver com clareza minha família estava esperando por mim e eu voltei a ser apenas um garoto feliz. Subimos na carroça e meu pai disse “logo, logo chegaremos à nova casa, sua mãe e irmã já estão bem melhores e logo tudo ficara em paz”. Assim eu parti dessa vida para a eternidade, não sei quem eram as pessoas naquela sala, mas agradeço do fundo do meu coração.

                Enquanto isso na sala Morrice decifra a mensagem deixada pelo rapaz agora morto ele ela dizia : Blackwood, monstros na neve, eles me fizeram esquecer, ACN-1826.
                Kidman se virou depois de ficar encarando o vazio por um tempo, leu a mensagem e se virou para Adan:
-Acho que temos mais um mistério nas mãos, bem seu trabalho continua Adan. Acho que parece óbvio que o que aconteceu aqui está alem da compreensão mesmo para vocês.  Bem em primeiro lugar finalmente libertamos uma alma torturada e isso é algo que o Peregrino da cidade se orgulharia se pudéssemos falar sobre isso. Segundo devemos estar sempre um passo a frente dos nossos inimigos e acreditem quando eu digo que essa calmaria da cidade é apenas uma fachada para nossa luta diária. Em breve levarei vocês para assembléia e devo ter deixado implícito que o sigilo de nossos atos nos garante a vantagem, além do mais não sou conhecida por aceitar traições de nenhum grau.
- Agora voltem para seus lares, eu preciso ir para o distante conversar com meus aliados e ver o que mais descubro, Morrice me acompanhe e Adan fique de guarda.

-Para os demais boa noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário